Desde então, 373 crianças já passaram pelo Lalec, a maioria encaminhada para adoção
Foi em 26 de abril de 1999 que os amigos Mateus Anjos, Ombretta Gori Sacco, Armando Vieira e Berenice Oliveira Malta se uniram para criar um abrigo para crianças cujos pais eram portadores do vírus HIV. O grupo já dava assistência espiritual e orientação na Federação Espírita do Estado de São Paulo (Feesp).
“Naquela época, as pessoas que se contaminavam, em pouco tempo, vinham a óbito. O HIV era como se fosse um estigma, e a pessoa era relegada, até pela família, ao abandono. Então, tínhamos esse desejo de ajudar essas pessoas, que eram os últimos dos últimos.”
A frase acima, de Ombretta, retrata bem o espírito dos quatro fundadores da instituição. Anjos também acrescenta: “Nasciam crianças com o vírus e, pela falta de condições dos pais de cuidar, elas eram tiradas da família. Foi a partir dessa situação crítica que a gente se propôs a abrigá-las”, diz.
Inicialmente, a Feesp manteria o abrigo financeiramente, mas, quando o conselho da entidade avaliou que seria muita responsabilidade desistiu, Anjos decidiu assumir o projeto. Para dar vida ao embrião do Lalec, ele cedeu um imóvel para o futuro lar para as crianças e, finalmente, tudo começou.
O trabalho, logo nos primeiros anos, mostrou ótimos resultados. Das crianças que chegavam com menos de um ano, a grande maioria negativava a carga viral. “Nessa fase, se são bem cuidadas e alimentadas, e graças ao coquetel fornecido pelo Instituto de Infectologia Emílio Ribas, que desenvolve um trabalho de primeiro mundo, as crianças têm chance de se tornar sadias”, explica Ombretta.
Foi por conta dos avanços no tratamento da doença que o Lalec mudou o perfil de atendimento. Com isso, a partir de 2009, a instituição passou a abrigar crianças abandonadas e em situação de vulnerabilidade social. Hoje, 20 anos depois, 385 crianças já passaram pela instituição, a maioria encaminhada para adoção.
“São 20 anos de muita luta, perseverança, humildade e carinho. Veja, é uma coisa maravilhosa: a gente consegue pegar esses bebês e a maioria permanece pouco tempo, porque a adoção está mais ágil. Então, a gente se sente fazendo o trabalho da cegonha”, explica Anjos. “Nosso sucesso se deve ao trabalho que é de boa qualidade, com bom nível, higiene e infraestrutura. Não é luxo, mas não falta nada”, completa.
Ombretta também tem grande satisfação com a trajetória traçada pela instituição ao longo desses 20 anos de história. “É um trabalho que agradeço a Deus a oportunidade de ter participado. Posso dizer que fiz minha pequena participação, que resultou em grande alegria”, afirma uma das fundadoras do Lalec.
Futuro
E qual seu desejo para os próximos 20 anos da instituição? “Que continue esse trabalho maravilhoso. O Lalec só tem que crescer, nesse passo que está, com muito amor, muita dedicação, muito carinho”, diz Ombretta.
“Como espírita, tenho essa filosofia de que precisamos interagir com a sociedade e também ajudar a melhorá-la”, avalia Anjos. “Quando veio essa oportunidade, vi que valia a pena, que era um trabalho que encaixava com o meu coração, com o meu sentimento, e parti para realizar. E é dando o primeiro passo que se completa a jornada. Assim, você vai sentindo alguma satisfação e certa paz de espírito, porque está cumprindo com o seu dever. Espero que, no futuro, não haja mais tanta gente desorientada na vida. Enquanto for necessário ter essa estrutura, nós vamos fazer”, afirma.